Golpismo no Brasil: Uma Tradição que Precisa Acabar
A história republicana brasileira revela a dificuldade dos militares em compreender que são servidores públicos, e não agentes políticos. Essa confusão tem custado caro ao país, resultando em sucessivos períodos ditatoriais. Em qualquer democracia sólida, as Forças Armadas devem limitar-se à defesa da soberania, da ordem pública e das instituições — nada além disso.
É preciso reafirmar: lugar de militar é no quartel. Não existe “Poder Militar”, e a Constituição não confere às Forças Armadas nenhuma função de “Poder Moderador”. A insistência de grupos saudosistas nessa interpretação distorcida visa legitimar aventuras autoritárias.
O recente flerte com o golpismo, revelado por investigações da Polícia Federal, mostrou que estivemos novamente à beira do abismo. Parte das Forças Armadas ainda opera com uma mentalidade autoritária, presa à lógica anticomunista e incapaz de conviver com o dissenso democrático. Como lembra Norman Dixon em A Psicologia da Incompetência dos Militares, não são raros os comandos ascendidos por características inadequadas ao pleno exercício da liderança.
Ainda assim, a ruptura não se consumou graças à postura legalista de oficiais como o General Freire Gomes e o Brigadeiro Baptista Júnior, que compreenderam a inviabilidade política e social de um golpe. A sensatez desses militares foi crucial para impedir que o país mergulhasse novamente na escuridão autoritária.
O Brasil precisa romper, de uma vez por todas, com sua tradição golpista. A democracia exige que as Forças Armadas respeitem seu papel constitucional e permaneçam onde devem estar: nos quartéis, e fora da política.
Rui Leitão

