A VASSALAGEM COLONIAL DA EXTREMA DIREITA
Aprendi ainda criança que ser patriota é nutrir um sentimento de amor ao país em que nascemos, defendendo seus interesses acima de quaisquer outros. Lamentavelmente, não é o que temos visto nesse agrupamento político da extrema direita brasileira que se autoproclama “patriota”. No domingo passado, dia em que celebramos nossa independência, senti o que podemos chamar de “vergonha alheia” ao ver, numa manifestação popular na Avenida Paulista, em São Paulo, uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos ser ostentada.
Onde está o patriotismo desse pessoal? A cena revela uma explícita subserviência política, sobretudo quando o presidente daquele país acintosamente tenta intervir em questões que dizem respeito unicamente ao povo brasileiro, como se quisesse nos submeter a uma colonização ideológica. Incrédulos, assistimos a uma multidão estimada em cerca de 40 mil pessoas disposta a agir como linha auxiliar de uma potência estrangeira. Não bastaram os atos antidemocráticos promovidos nos anos recentes, em esforço para alimentar tramas golpistas. Agora, essa turma resolveu também reverenciar como símbolo de luta o pavilhão nacional de uma nação que não é a nossa. Vi, inclusive, fotos e vídeos de bandeiras que misturavam a nossa com as dos EUA e de Israel.
É um flagrante desrespeito à bandeira verde-amarela e à soberania nacional. É como se passassem a mensagem de que aceitamos a interferência de um governo estrangeiro em nossos assuntos internos, apoiando explicitamente o comportamento de políticos que estimulam ataques contra o Brasil — como o deputado Eduardo Bolsonaro tem feito reiteradamente. Isso é aplaudir verdadeiros “traidores da pátria”.
É muito triste perceber que alguns brasileiros estão sendo alcançados por uma guerra cognitiva que corrói o senso de patriotismo. Esse fenômeno é extremamente perigoso, sobretudo quando estamos sendo convocados a fazer uma escolha histórica: a de preservar nossa soberania nacional e rechaçar, patrioticamente, a lógica de submissão colonial que tentam nos impor. Não tenho conhecimento de que algo semelhante já tenha acontecido em nosso país. Justamente no dia em que comemoramos nossa independência, esses falsos patriotas exaltam a bandeira de uma nação que nos ameaça com medidas que prejudicam a economia brasileira.
Essa constrangedora — e criminosa — vassalagem de certas lideranças políticas aos Estados Unidos fortalece práticas entreguistas que acarretam enormes prejuízos econômicos ao Brasil. A extrema direita tupiniquim está, enfim, se revelando. Esses falsos patriotas trocaram o verde-amarelo de nossa bandeira pelas cores da bandeira estadunidense, como se o Brasil fosse um protetorado norte-americano.
O verdadeiro patriota defende o fortalecimento das instituições, respeita a democracia e protege a soberania nacional. Ainda bem que esses “traidores da pátria”, com sua mentalidade colonizadora, são minoria. Mas precisamos estar atentos, pois representam um risco concreto ao nosso futuro enquanto nação soberana e independente.
Rui Leitão