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Uma das primeiras mulheres negras alfabetizadas de Itaporanga deposita esperança de sua candidatura no TRE

Foto: Reprodução

 Parece irônico, mas uma das primeiras mulheres negras a se alfabetizar em Itaporanga teve sua candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral do município para o pleito de 6 de outubro exatamente porque, no entender do judiciário, ela não sabe ler nem escrever. Um engano que se tronou prejudicial para a candidata Maria Helena que faz uma das mais belas campanhas da cidade. Não é ironia: é a realidade de uma lei eleitoral, que de tanta exigência e burocracia, tornou-se uma barreira para os mais pobres disputarem um cargo eletivo, embora o direito de votar e ser votado seja constitucional.

          Maria Helena Mocó, com 81 anos e uma força admirável, estudou na escola Semeão Leal, a mais antiga do município, chegando até a 5ª série primária, conforme ela narra com o testemunho de ex-companheiras de escola. Ela se escolarizou em um tempo em que quase todas as crianças negras estavam fora da sala de aula. Junto com ar irmãs Data e Dora, grandes matriarcas e figuras da família Mocó, contribuiu para a formação cultural e escolar dos meninos e meninas da Vila Mocó, comunidade afrodescendente fundada pelos seus antepassados mais de dois séculos atrás e umas das primeiras povoações de Itaporanga.

       Dona Maria Helena trabalhou durante muito tempo nas cozinhas de gente rica na cidade e, depois, montou seu próprio negócio: passou a ser vendedora ambulante das próprias comidas que fazia nos grandes eventos, a exemplo do Natal e Ano Novo, assim como nas festas cotidianas. A vontade de entrar na política sempre teve, mas nunca foi do interesse dos grandes partidos que sempre dominaram a cena política no município. No ano passado, ela filiou-se ao PSOL e este ano lançou-se candidata a vereadora pelo partido, o que teve uma boa repercussão social devido sua grande popularidade. 

     Vendo isso, alguns figurões da política local começaram a pressioná-la com propostas financeiras e até ameaças de perseguição para que desistisse da candidatura, mas Maria Helena resistiu, embora todo abalo emocional pela pressões que sofreu. Teve igualmente alguns problemas graves de saúde, mas também resistiu firme. No entanto, sua pior dificuldade foi a própria Justiça Eleitoral. Maria Helena teve sua candidatura indeferida sob o argumento legal de que não provou saber ler nem escrever.  Na verdade, ela não anexou nenhum documento probatório de sua vida estudantil porque a pesquisa feita na Gerência Regional de Ensino não encontrou arquivos antigos da escola Semeão Leal: foi tudo perdido ao longo das décadas. Culpa do estado, mas prejuízo para ela. 

 

           Convocada pela Justiça para fazer um teste de escolaridade no cartório eleitoral, teve dificuldades por causa de um problema de visão: ela está em tratamento oftalmológico. Teve sua vista afeta pelos problemas vasculares que sofreu nos últimos meses. Mas a guerreira continua firme. Seu advogado, Olímpio Rocha, pediu à juíza eleitoral que revisse sua decisão com base em documentos que foram anexados ao processo, a exemplo de um atestado da clínica oftalmológica onde faz tratamento, uma declaração da comunidade rural Vila Mocó e um abaixo-assinado com centenas de pessoas testemunhando sua escolaridade e sua contribuição como professora voluntária. No entanto, a magistrada manteve sua sentença e determinou o encaminhamento do caso ao Tribunal Regional Eleitoral. É no TRE que a guerreira Maria Helena Mocó deposita a esperança de justiça. Enquanto isso, mantém sua campanha firme e a luta pelo voto. 

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