COLUNASÉRGIO BOTELHO

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O chope da Casa dos Frios

A imagem é meramente ilustrativa, pois não encontrei foto da Casa dos Frios.

Sérgio Botelho – Situado entre a antiquíssima Igreja da Misericórdia e o Ponto de Cem Reis, vizinho ao oitão do solar de João Minervino (proprietário do Paraíba Palace Hotel), hoje Bradesco, a Casa dos Frios fez muito sucesso em João Pessoa até a década de 1970. Havia motivos para isso, já que foi lá onde, mais largamente, se consolidou entre os boêmios da cidade a especialidade etílica alemã, conhecida como chope, embora houvesse iniciativas anteriores, menos amplas, em João Pessoa. Mas também tinha o ovo cozido, o galeto e, principalmente, a atualização sobre as novidades provincianas. Queijos, conservas, patês… uma variedade de opções frias também pode ser considerada. As conversas giravam em torno de temas esportivos, música, cinema, política, sem esquecer os debates filosóficos e existenciais. Quando se queria saber se algum boato surgido no Ponto de Cem Reis era verdadeiro, o jeito era recorrer à Casa dos Frios. Homens, principalmente – já que mulheres muito dificilmente iam aos bares, em tempos de machismo absoluto – lotavam as mesas disponíveis para conversas intermináveis. Os papos iam aumentando em decibéis, e cruzando por sobre os convivas, à medida que cresciam, sobre as mesas, aquelas cartelinhas, oficialmente chamadas bolachas de chope, feitas de papelão, que serviam para apoiar a caneca cheia. Além disso, ao final das farras, eram as ditas bolachas que se prestavam à contagem da quantidade de chopes consumidos. Minhas lembranças de conviva da Casa dos Frios são de uma época em que o empreendimento já experimentava declínio, embora nada do que existiu no Centro de João Pessoa haja passado despercebido aos meus tempos de menino morador da região, desde o nascimento. Nessa condição, ali cumpri mandados de casa, para compras de frios e galeto, algumas vezes, em plena ebulição etílica. Sem esquecer que o local ficava bem no caminho do Cine Rex e das missas da Misericórdia. O resto, extraí de crônicas da lavra de frequentadores da época de ouro daquele empório-bar-restaurante. Outros bares, inclusive para as bandas de Tambaú e adjacências, além da Bambu e das primeiras boates, já dividiam as preferências, principalmente na direção da orla marítima que se ia alcançando. Certamente, a Casa dos Frios se constituiu num traço indelével da vida pessoense, em parte da segunda metade do Século XX.

 

Sérgio Botelho  – Jornalista e Escritor

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