PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS – Dona Adélia de França
Sérgio Botelho – Uma das lembranças que guardo dos tempos de infância e adolescência, em João Pessoa, é da escola da professora Adélia de França, na Almeida Barreto. A recordação se torna, nesta quarta-feira, 20, como bem apropriada, pois é hoje que o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra. Na pessoa de Dona Adélia, enalteço, em atenção à oportuna data, a existência, em nossa capital, de uma professora negra – pioneira, nesse quesito –, em meio à uma sociedade cheia de hipocrisia e culto à branquitude, que se tornou, mesmo assim, uma das mestras mais respeitadas da cidade. A professora Adélia de França começou a desafiar os estereótipos raciais quando decidiu ingressar na Escola Normal, lotado pela elite. E não parou por aí, pois, decidida a seguir buscando seu espaço de mestra, se submeteu a concurso público, passou, e ensinou em escola pública, em várias cidades da Paraíba, até se aposentar. Amante dedicada dos livros, formou uma biblioteca (Coelho Lisboa) em seu espaço particular de ensino, a Escola Moura e Silva, na Almeida Barreto, onde se dedicou ao ensino particular. Por toda a vida foi exemplo claro de como a excelência pode se tornar ferramenta de resistência e transformação em contextos marcados pela exclusão e pelo preconceito. Seu trabalho não só ajudava a formar cidadãos mais preparados, mas também representava um ato político, ao reafirmar que a educação é direito de todos e pode ser ponte para a igualdade. Um dos resultados mais brilhantes dos ensinamentos educacionais e intelectuais é sua filha única, Cátia de França, virtuosa musicista, compositora e letrista entre as melhores do país, com respeito internacional. Adélia de França é exemplo inspirador de como a competência e o compromisso ético podem transformar vidas e desmantelar preconceitos.
Sérgio Botelho – Jornalista e escritor