PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS – As matinais do Rex
Sérgio Botelho – Nos domingos pela manhã, o saudoso Cinema Rex, uma das joias da memória cultural e social de João Pessoa, se tornava grande ponto de encontro infantil, estimulando o divertimento e a sociabilidade. As concorridas sessões matinais reuniam um público fiel de crianças, atraídas pelos filmes, e, ainda, pelos seriados da época. Apresentados em capítulos curtos, geralmente exibidos antes do filme principal, esses seriados terminavam com um suspense que incentivava a meninada a retornar ao cinema, no domingo seguinte, para descobrir o desfecho. Contumazes nas matinais do Rex, o gênero faroeste exercia enorme fascínio sobre o público infantil. Ambientado no cenário do Velho Oeste americano, o originalmente chamado “western” era dominado por homéricas histórias de aventura, coragem e justiça, com grande poder sobre as crianças. Mas também havia espaço para o humor infantil, como Tom e Jerry, O Gordo e o Magro e o genial Carlitos. Importante lembrar que as matinais do Rex serviam não apenas para assistir aos filmes e seriados, mas também para trocar figurinhas dos inúmeros álbuns da época, que abordavam temas variados como história, geografia e, claro, futebol. Nesse particular, existia também o jogo em que as figurinhas eram empilhadas com a face voltada para baixo em uma superfície plana. Cada jogador, na sua vez, batia com a mão aberta e côncava próximo à pilha de figurinhas, gerando uma corrente de ar (o “bafo”) com o objetivo de virar as figurinhas. As que fossem viradas com a imagem para cima eram ganhas pelo jogador que realizou a jogada. (No caso, não eram raros os choros e confusões). Para a garotada, esses encontros eram uma pausa mágica na rotina de escola e deveres de casa, um lugar onde podiam viver um pouco dos sonhos da tela e compartilhar aqueles pequenos tesouros colecionáveis com os amigos. As matinais infantis do Cinema Rex em João Pessoa foram especialmente populares em um tempo no qual a televisão ainda não havia dominado o cenário do entretenimento, na cidade. Hoje, apenas lembrança nostálgica.
Sérgio Botelho – Jornalista e escritor