PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS – Bomba na inauguração do Estádio Almeidão
Sérgio Botelho – No dia 9 de março de 1975, a seis dias do término de seu mandato, mas debaixo de muita euforia na seara esportiva local, o então governador Ernani Sátyro inaugurou o Estádio José Américo de Almeida Filho, o Almeidão. (Vítima de trágico acidente automobilístico a caminho do Rio de Janeiro, o homenageado era filho do ex-governador, ex-ministro e uma das lideranças da Revolução de 1930, José Américo de Almeida, que somente viria a falecer em 1980). A ideia inicial de construir um grande estádio apenas na capital do estado provocou enorme celeuma política, terminando por fazer com que Sátyro construísse dois, um em João Pessoa e outro em Campina Grande, dividindo a verba destinada inicialmente a um só projeto. Naquele tempo, vivia-se uma enorme pinimba entre as duas principais cidades paraibanas. (Ainda houve quem, por pura gozação, sugerisse a construção do novo estádio na cidade de Cajá, no caminho entre o litoral e a Serra da Borborema). O resultado é que até hoje, quase 50 anos depois, nenhum dos dois pode ser considerado como concluído. Mas veja o que aconteceu. Naquele tempo, tempo de regime ditatorial no Brasil, somente existiam dois partidos: a Arena, do lado do governo, e o MDB, apetrechado para fazer oposição. Na Paraíba, os arenistas eram maioria folgada na Assembleia Legislativa da Paraíba. Depois de o governador haver decidido construir os dois estádios, sua bancada restou pacificada, e passou a lhe dar apoio total para a execução da tarefa. Contudo, a minoria emedebista tinha um deputado, com a mesma residência eleitoral do governador, a cidade de Patos, que lhe fazia oposição ferrenha, chamado Ruy Gouveia. Pense num cabra destemido e de língua solta! Nesse diapasão, ele passou a prever que o estádio ia cair no dia da inauguração, o que não impediu que cerca de 25 mil pessoas estivessem presentes à festa de inauguração, na qual o Botafogo do Rio de Janeiro venceu o Botafogo paraibano por 2 X 0. (Curiosidades: havia um atacante no alvinegro carioca chamado Tiquinho, autor do primeiro gol aos 30 segundos de partida e, portanto, o primeiro gol marcado no Almeidão; e, até então, o maior público de um estádio de futebol em João Pessoa beirava 5 mil pessoas). Na festa, debaixo das pragas de Gouveia sobre possível queda do estádio, alguém soltou, no espaço embaixo das arquibancadas do lado sombra, uma dessas bombas poderosas que eram vezeiras em tempos de São João, embora ainda estivéssemos um pouco distantes das festas dedicadas ao santo. Foi um tumulto! Quem aguentou o tranco acabou sendo o gradil no limite entre as arquibancadas e o fosso que normalmente sempre existiram nos estádios brasileiros antes das atuais arenas com o objetivo de evitar indesejáveis invasões de campo. Não faltaram suspeitas oficiais sobre possível ato terrorista com a bomba sendo atribuída a orientação de Gouveia. Porém, ao final, entre mortos e feridos escaparam todos.
Sérgio Botelho- Jornalista e escritor