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MPB NAS RUAS: A DEMOCRACIA EM CANÇÃO

O convite ao povo era para participar de um ato político contra a PEC apelidada de “blindagem” e o Projeto de Lei da Anistia. No entanto, transformou-se, em todo o Brasil, em um espetáculo no qual a manifestação artística nos fez relembrar o tempo em que a voz da resistência ecoava através da canção popular. A iniciativa partiu de Paula Lavigne, esposa de Caetano Veloso, e em poucos dias a convocação se espalhou por todas as capitais do país.

Em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde artistas como Chico, Gil, Caetano, Djavan, Lenine, Ivan Lins e tantos outros subiram ao palco, o ato de ontem mais pareceu a realização de um festival da MPB. A multidão entoava canções de protesto que marcaram as décadas de sessenta e setenta. Nos demais estados, artistas locais também se apresentaram, transmitindo mensagens de crítica social e política através da música. Tudo ocorreu de forma pacífica, sem quebra-quebra nem vandalismo, tão diferentes das cenas vistas no 8 de janeiro de 2023. O clima era de alegria contagiante.

No Brasil, a música sempre esteve do lado certo da História, denunciando injustiças e reacendendo o espírito de esperança e de transformação. Uma música subversiva, no melhor sentido. A voz cantada ecoava como grito de alerta, despertando consciências e se insurgindo contra a política praticada em desfavor do povo. Um som libertador que conquistava mentes e corações indignados com as tramas golpistas, as ameaças à soberania nacional e o exercício criminoso da política.

A arte musical alimentava a reação necessária para reafirmar a cidadania e a resistência. O povo, cantando e dançando nas praças públicas de todas as capitais brasileiras, desarmava as manobras de blindagem parlamentar e as articulações pela anistia aos que atentaram contra o Estado Democrático de Direito. Nos intervalos, palavras de ordem eram proclamadas com ironia e coragem, clamando por justiça e por um Brasil livre de golpistas e corruptos.

Nossos símbolos pátrios, até então sequestrados pela extrema direita, eram recuperados com entusiasmo. Não havia bandeiras estrangeiras. A MPB, mais uma vez, se erguia como instrumento para guiar o país no caminho do fortalecimento da nossa jovem democracia. Música e política se entrelaçavam como armas da sociedade para questionar os que menosprezam a consciência crítica do povo.

O Brasil acordou.

Rui Leitão

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