JOÃO PESSOA

Centro de Zoonoses de João Pessoa atende mais de 500 animais por mês, maioria vítima de abandono

Abandono animal: um fator de desequilíbrio que prejudica o meio ambiente e a humanidade. É com essa triste realidade que todos os dias os profissionais do Centro de Zoonoses de João Pessoa se deparam. Dos mais de 500 animais atendidos mensalmente, pelo órgão público – entre os serviços ambulatoriais, de cirurgia, vacinação e Castramóvel – a grande maioria é vítima de abandono. Na última reportagem da série ‘Saúde Única: o cuidado integral de animais, humanos e meio ambiente’, vamos tratar sobre esse assunto e mostrar que há um amor que luta contra essa atitude.

“A maioria dos animais que entra aqui vem proveniente de demandas judiciais. São casos de maus-tratos, casos em que o tutor faleceu e não tem nenhum familiar próximo para ficar com o animal, situações de acumuladores e os que vivem nas ruas porque têm uma determinada doença zoonótica e precisa ser retirada do convívio com outros animais. A gente traz eles, faz testagem, todos os exames necessários, laboratoriais, teste de lâmina para esporotricose, reabilita o animal para que ele possa ganhar um novo lar”, pontuou Pollyana Dantas, gerente de Vigilância Ambiental e Zoonoses da Prefeitura de João Pessoa.

A negligência de alguns humanos com os animais é uma verdade que se choca ao sentimento doce e amoroso demonstrado nos gestos e palavras dos profissionais com quem conversamos. O descaso de uns revela que ainda vivemos em um estágio de crueldade em que se abandonam animais doentes para esperarem, sozinhos, com fome e sede, a morte.  Para a sorte de muitos deles – não os seres humanos, e sim os bichos – João Pessoa tem uma rede municipal de amparo animal que resgata vidas.

Na roda que faz girar esse descaso, o desequilíbrio no ecossistema, do qual fazem parte – como já dito – homem, animal e meio ambiente. Em situação de abandono, os animais vão procriar de forma desordenada, transmitir doenças uns aos outros e espalhar enfermidades entre os humanos, inclusive os que os desampararam – entre elas a esporotricose e a leishmaniose.

A esporotricose, que por sinal é curável, é uma micose causada por um fungo (Sporothrix) que afeta humanos e animais, principalmente gatos, sendo transmitida por meio de lesões na pele. A transmissão ocorre por contato com material vegetal e solo contaminados ou por contato com animais doentes, e é essencial procurar um médico ou veterinário para diagnóstico e tratamento.

A leishmaniose é uma doença infecciosa causada por parasitas do gênero Leishmania. Ela é transmitida aos seres humanos e outros animais por meio da picada de insetos infectados, conhecidos como flebotomíneos ou mosquitos-palha.

Coração humano – Alguns especialistas em jornalismo defendem a tese de que o autor da reportagem não deve reportar o texto na primeira pessoa. Há quem acredite que o jornalista tem apenas que descrever os cenários e personagens sem se envolver na matéria. Perdoem-me! Não consigo alimentar essa crença. Por isso, assumo o texto em primeira pessoa, me permitam.

Quando olhei nos olhos dos profissionais entrevistados e eles me falaram sobre abandono, senti o aperto no coração de cada um. A tristeza era nítida por conviver com essa realidade tão funesta. E foi Kalliny Feliciano quem definiu essa atitude. Ela falou sobre a falta de vínculos, e a sua expressão revelava a angústia de saber que há tutores que não os estabelecem.

“O abandono, ele se caracteriza por falta de vínculo, na verdade. Porque a partir do momento que você tem vínculo com o animal, você respeita e ama aquele animal, você nunca vai abandonar. Só vai planejar a sua vida de acordo com o que caiba naquele animal. A partir do momento que você abandona aquele animal, é porque há um desvio de caráter e porque você não tem vínculo”, alerta Kalliny.

Avanços na saúde pública – Mas, o reino animal não é feito apenas de abandonos. Isso fica bem claro nas falas de Alick, Kalliny, Lucas e Pollyana. Em meio a todo esse assunto, lágrimas verteram dos olhos da gerente de Vigilância Ambiental e Zoonoses ao narrar e acolher com exaltação os avanços conquistados no Centro Municipal de Zoonoses, um sentimento sincero e contrário a negligência.

Pollyana é só amor pelos animaizinhos. Por isso, ela celebra cada investimento, cada melhoria, cada nova fase que amplia o cuidado com a causa animal no sentido macro, porque, como dissemos em todo o transcorrer deste trabalho, isso significa cuidar do humano e do ambiental. Um desses avanços é a grande mudança estrutural que já começou a acontecer no Centro de Zoonoses.

“A maioria da unidade vai passar por uma demolição total, que é o caso dos canis e dos gatis. Eles vão ser totalmente reconstruídos. Terão espaços desde a recreação para os animais, espaço para que os futuros tutores cheguem e conheçam esses animais. A parte também de solário, que é fundamental para que eles tenham uma qualidade de vida no período que estão aqui, aguardando essas novas famílias enquanto estão em reabilitação”, revelou Pollyana Dantas.

Mudança importante, que trará vida nova a todos. “As salas serão maiores. A qualidade do atendimento também mudará, porque teremos mais espaço para que os profissionais se dediquem às suas funções, que a maioria são funções exclusivas aqui da unidade. Todos terão mais espaço e um ambiente totalmente novo, humanizado, tanto para os animais quanto para os usuários”, falou a gerente de Vigilância Ambiental e Zoonoses.

Missão, veterinário – Para quem está na fase de sonhar em se tornar médico-veterinário, cujo dia do profissional é comemorado neste 9 de setembro, é importante saber que não basta conhecer a técnica de cuidar dos animais e entender o sistema de Saúde Única. É preciso muito mais para desempenhar a vocação que alicerça a construção do tripé que a compõe, como ressalta Kalliny Feliciano.

“É preciso ter amor, caráter é ética. A técnica a gente consegue aprimorar, consegue moldar a pessoa com a técnica. Agora, se não tem amor pelo que faz, não tem ética, caráter, você vai ser um profissional muito raso, não vai ser um bom profissional”, declarou Kalliny, que recebeu a aprovação das palavras por Alick e Lucas.

Amor, caráter e ética. No Centro de Vigilância Ambiental e Zoonoses da Capital eu testemunhei tudo isso exalar pelos poros de Alick, Kalliny, Lucas e Pollyana, porta-vozes de todos que carregam no coração a dádiva de agir como eles, como um super-herói ou super heroína do mundo animal/humano. E, como disse Alick, lá no comecinho da nossa série de reportagem, heróis e heroínas de toda a humanidade.

 

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