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Carlos Lacerda: o “demolidor de presidentes”

Não há como falar da história política brasileira sem dedicar atenção ao protagonismo de um personagem que marcou os momentos de grandes transformações do século XX: o jornalista e político Carlos Lacerda. Notabilizou-se por sua participação em episódios decisivos, sempre cercado de polêmicas, realizando ataques políticos e pessoais contra seus adversários.

A partir de 1945, destacou-se como uma liderança carismática, caracterizada pela veemência no combate aos governos vigentes. Essa postura lhe rendeu a fama de promotor de movimentos golpistas. Usava o jornalismo como instrumento para desconstruir a imagem de figuras importantes da cena política nacional. Dono de uma oratória brilhante, porém agressiva, exerceu forte influência no período em que viveu, conquistando o apelido de “demolidor de presidentes” — por ter contribuído para a queda de cinco chefes de Estado: Getúlio Vargas (duas vezes), Carlos Luz, Café Filho, Jânio Quadros e João Goulart.

Carioca, descendente de tradicional família política de Vassouras (RJ), iniciou a carreira jornalística ainda jovem, no Diário de Notícias. Em 22 de abril de 1945, publicou no Correio da Manhã uma entrevista com José Américo de Almeida, que ganhou repercussão nacional, por trazer duras críticas ao regime ditatorial de Vargas. Aproximou-se do comunismo, mas logo rompeu com ele, convertendo-se ao catolicismo. Em 1947 ingressou na política, elegendo-se vereador no então Distrito Federal (Rio de Janeiro) pela UDN – União Democrática Nacional. Nesse período fundou o jornal Tribuna da Imprensa, transformando-o em sua trincheira para atacar opositores.

O contundente poder verbal de Lacerda, expresso em críticas violentas a Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, lhe valeu o apelido de “O Corvo”, em referência ao tom conspiratório de sua atuação. Apoiou o movimento militar de 1964, acreditando que, após a derrubada da esquerda, os militares devolveriam o poder aos civis — a ele, em especial. No entanto, dois anos depois, decepcionado, articulou com ex-adversários, como João Goulart e JK, a Frente Ampla, em oposição ao regime militar. Foi preso e cassado após a edição do AI-5, encerrando sua vida pública e frustrando o sonho de chegar à Presidência da República.

Uma frase sua, célebre e reveladora do espírito golpista, referindo-se a Vargas, sintetiza sua postura:

> “O sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”

Lacerda foi o principal articulador da campanha midiática que pressionou Getúlio Vargas e acabou por precipitar seu suicídio em agosto de 1954.

Considerado por muitos como o que de mais sofisticado a direita brasileira produziu em termos de eloquência e estrutura intelectual, Lacerda era ao mesmo tempo amado e odiado. Em 1975, recebeu uma carta de Carlos Drummond de Andrade, que escreveu: “Ninguém é indiferente ao charmeur irresistível que você é, e mesmo os que dizem detestá-lo, no fundo gostam de você. Gostam pelo avesso, mas gostam.”

Carlos Lacerda faleceu em 1977, aos 63 anos, vítima de complicações cardíacas.

Rui Leitão

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