A ONU aplaude Lula e ecoa o isolamento de Trump
Não restam dúvidas de que os discursos de abertura da Conferência da ONU evidenciaram, sobretudo, a relevância de Lula no cenário global. Dois pronunciamentos, distintos e contrastantes, dividiram as atenções: enquanto Trump reforçava o estereótipo do líder autoritário e autocentrado, Lula se projetava como estadista e democrata.
Na tribuna, o presidente brasileiro defendeu o combate à fome como prioridade planetária, pregou soluções pacíficas para os conflitos — com destaque à tragédia em Gaza — e reafirmou a inegociabilidade da democracia. Declarou ao mundo que o Brasil fez história ao condenar, dentro da legalidade, um ex-presidente golpista, reafirmando o respeito às instituições e ao Poder Judiciário. Foi um recado direto: o país não aceitará pressões externas nem assumirá posição de subalternidade diante de qualquer governo estrangeiro.
Já o discurso de Trump seguiu o caminho oposto. Usou a tribuna para falar mais à sua base radical do que à comunidade internacional. Abusou de desinformações, ressentimentos, ameaças, xenofobia e ufanismo. Transformou a agenda ambiental em arma retórica contra adversários, ignorando que ali se dirigia a representantes de todas as nações. Sua postura repetia a velha mania imperial de querer impor-se como “xerife do mundo”.
As reações do plenário deixaram claro o contraste: Lula foi interrompido cinco vezes por aplausos; Trump, apenas uma, ao pedir a libertação de reféns em Gaza. Ficava evidente a encruzilhada diante da comunidade internacional: apostar no multilateralismo que fortalece a multipolaridade ou ceder à regressão fascista, que ameaça a ordem democrática.
O desfecho trouxe surpresa. Trump, em meio à leitura no teleprompter, interrompeu-se para narrar um encontro informal com Lula nos corredores da ONU. Disse ter descoberto uma “excelente química” com o brasileiro, elogiou seu carisma e propôs novo diálogo na semana seguinte. Ainda que a fama de bravateiro e mentiroso fragilize a credibilidade de sua fala, abriu-se um canal de negociação sobre o tarifaço imposto ao Brasil.
Se a reunião for confirmada, caberá ao governo brasileiro blindar-se contra armadilhas. O encontro deve evitar o simbolismo do Salão Oval e restringir-se a temas comerciais, sem abrir espaço para ingerências no Poder Judiciário. Por ora, o placar é claro: Lula um, Trump zero.
Rui Leitão