colunaRui Leitão

A ETERNIDADE MUSICAL DE LO BORGES

“Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones.” Assim era Lô Borges. Em parceria com Fernando Brant e o irmão Márcio, escreveu em 1970 a canção “Para Lennon e McCartney”, uma homenagem aos ídolos que o inspiraram a ingressar no mundo da música. Em 1964, ficou curioso ao ver o anúncio do filme “Os Reis do Iê-Iê-Iê”, com os quatro famosos cabeludos ingleses. O mundo começava a viver a histeria beatlemaníaca. Permaneceu, por quatro sessões seguidas, diante da tela do cinema. Anos mais tarde, contando essa história, lembrou: “Fiquei encantado, fixado no John, nas coisas sarcásticas que ele dizia.. Pensei: ‘Esse cara é o meu predileto’. Foi amor à primeira vista”.

Morando em Belo Horizonte, aos dez anos de idade, deparou-se pela primeira vez com aquele que viria a ser seu companheiro na idealização do Clube da Esquina: Milton Nascimento. O encontro foi casual, nas escadas do Edifício Levy, na Avenida Amazonas. Seu vizinho tocava violão e, ao ver o menino atentamente observando, perguntou: “Você gosta de música, né, menino?”. Dois meses depois, Lô conheceu um coleguinha da mesma idade, chamado Beto Guedes. Estava predestinado a ser um dos nomes mais importantes da música brasileira. Sua obra inspirou artistas de diferentes gerações.

No local frequentado pela garotada do quarteirão surgiu o que viria a ser conhecido mais tarde como Clube da Esquina, hoje um dos atrativos turísticos da capital mineira. O nome nasceu de forma espontânea, a partir de uma resposta da mãe dos irmãos Borges a Milton Nascimento, quando ele perguntou onde estavam os meninos. Ela respondeu: “Na esquina, num lugar que eles chamam de Clube da Esquina”.

Os irmãos Borges, juntamente com Beto Guedes e Flávio Venturini, reuniam-se à noite para tocar violão e cantar. Milton Nascimento, Toninho Horta, Nelson Ângelo e Naná Vasconcelos, ao passar por lá, corrigiam harmonias e ensinavam novos acordes. Aquele grupo de amigos misturava jazz, rock, bossa nova e sons regionais mineiros, criando um dos movimentos mais originais e influentes da música popular brasileira.

Em 1972, o Clube da Esquina virou o nome do disco que, mais de cinquenta anos depois, seria considerado o maior álbum brasileiro de todos os tempos, segundo o ranking da revista norte-americana Paste Magazine, que listou 300 discos icônicos da história da música mundial. Suas canções expressavam o sentimento de uma juventude que vivia sob a ditadura militar, entre incertezas, angústias e esperanças.

A notícia de sua morte entristeceu o Brasil — sobretudo nós, seus contemporâneos da geração 70. Lô Borges deixa uma coleção de clássicos da MPB e uma carreira brilhante. Foi autor de sucessos atemporais como “Um girassol da cor do seu cabelo”, “O trem azul” e “Paisagem da janela”. No mesmo ano em que assinou o álbum “Clube da Esquina”, lançou sua primeira produção solo, o chamado “Disco do Tênis”.

A parceria com Milton Nascimento é um marco histórico da música brasileira, presenteando-nos com obras como “O trem azul”, “Um girassol da cor do seu cabelo” e “Trem de doido”. Dono de uma sensibilidade única, Lô Borges nos deixa um legado musical dos mais ricos da MPB. Fica na memória como símbolo de liberdade criativa e da poesia sonora que brota das esquinas de Minas.

Rui Leitão

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