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São Paulo e a rejeição do eleitor à manipulação

Sérgio Botelho – Os processos eleitorais representam momentos singulares, em importância, para o fortalecimento da democracia. Ainda que diante de perigos ao próprio modelo, representados pela participação de notórios inimigos do regime político mais bem elaborado pela humanidade, no sentido de acomodar as diversas correntes de pensamentos, além dos interesses e das peculiaridades de cada indivíduo.
Um exemplo emblemático ocorrido, por exemplo, nas eleições deste ano em São Paulo, pode servir de parâmetro para futuras campanhas eleitorais no Brasil. Na véspera do pleito, um dos candidatos à prefeitura paulistana divulgou um laudo falso acusando um de seus adversários de vício em drogas, em uma tentativa de influenciar a decisão dos eleitores.
O resultado, no entanto, foi surpreendente: descoberta a falsidade criminosa, pela rápida ação, principalmente da imprensa, o candidato que parecia, em função de pesquisas eleitorais, ser um dos favoritos a disputar o segundo turno, acabou ficando fora da disputa.
O desfecho sinaliza uma mudança bastante positiva na postura do eleitorado, frente a uma prática que vem se intensificando. Notícias falsas que imitam o formato jornalístico, com manchetes sensacionalistas e conteúdo fabricado ou distorcido para atrair cliques e espalhar desinformação. Imagens com frases curtas e impactantes, de fácil compartilhamento, que geralmente distorcem a verdade ou oferecem uma visão parcial dos fatos.
Vídeos manipulados ou editados para alterar o contexto de falas e ações, induzindo o público a acreditar em versões falsas de um acontecimento. Áudios falsos que, por serem difíceis de verificar, disseminam rumores ou afirmações mentirosas, principalmente por meio de aplicativos de mensagens como o WhatsApp.
Sites que imitam o layout de portais de notícias confiáveis, utilizando endereços de URL semelhantes e apresentando informações falsas como se fossem verdadeiras. Vídeos e áudios manipulados digitalmente para colocar palavras na boca de pessoas que não as disseram ou criar eventos que nunca ocorreram.
Posts em redes sociais como Facebook, X, ou Instagram, que usam linguagem emocional, compartilham informações sem fontes confiáveis e incentivam os usuários a espalhar a mensagem rapidamente. Declarações nunca feitas atribuídas a pessoas conhecidas, dando falsa credibilidade à informação para influenciar a opinião pública.
Todos esses formatos se aproveitam da velocidade com que o conteúdo se espalha na internet, e da dificuldade das pessoas em verificar rapidamente a autenticidade das informações, o que facilita a sua disseminação e aumenta os impactos da desinformação.
O comportamento do eleitorado paulistano é um indicativo de que a sociedade brasileira está cada vez mais atenta e menos tolerante com táticas enganosas e antidemocráticas. A prática de fake news, que muitas vezes tem sido usada como ferramenta de desinformação e manipulação, encontra, nesse contexto, uma resistência significativa.
O próximo passo, inevitavelmente, deve ser a responsabilização e punição do responsável por essa prática. É fundamental que as instituições do sistema eleitoral e da justiça brasileira deem uma resposta à altura do ocorrido, não apenas para assegurar a lisura do processo eleitoral, mas também para desestimular futuros atos semelhantes.
A punição de quem difunde notícias falsas, sobretudo em períodos tão críticos como o das eleições, é um imperativo para preservar a saúde da democracia e garantir que o debate político seja baseado em propostas e verdade, não em manipulações e ataques pessoais.
O caso de São Paulo é um exemplo que precisa ser amplamente debatido e servir de aprendizado para que o Brasil avance em direção a processos eleitorais mais limpos e transparentes, onde a mentira não seja mais uma estratégia viável e impune. Enfim, ponto para a imprensa paulista que, rapidamente, checou a informação e a desmoralizou publicamente.

Sérgio Botelho – Jornalista e escritor

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