PARAÍBA

Grupo de violinistas é impedido de se apresentar em evento do ODE, em São José de Piranhas

Em vídeo publicado na internet, a banda manifestou 'profunda insatisfação pela situação'

 

Um grupo de Violinistas, do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, da cidade de Monte Horebe, no sertão do estado da Paraíba, foi impedida de se apresentar durante o Ciclo de Audiências do Orçamento Democrático Estadual (ODE), na noite da quinta-feira (6), em São José de Piranhas, com a realização da primeira Plenária no Estádio Municipal Marconi Cruz de Lacerda.

Segundo a programação, a apresentação da orquestra filarmônicade Monte Horebe, aconteceria às 17h, mas a banda teve o acesso negado.

Em vídeo publicado na internet, a banda manifestou ‘profunda insatisfação pela situação’.

Após ter a apresentação cancelada, a orquestra fez uma pequena apresentação em uma pizzaria, localizada no centro da cidade de São José de Piranhas, onde recebeu total apoio dos presentes.

Através das redes sociais muitas pessoas prestaram solidariedade ao grupo.

 

“Não fiquem tristes, por terem sido impedidas de se apresentarem no Orçamento Democrático Estadual.Não desanimem, vocês cantam, encantam e brilham aonde forem. Ninguém impedirá aqueles que nasceram para brilhar. Deus está no controle sempre.”

Fonte: Portal Terra Nova, com Big Pb.

“UM SILÊNCIO ENSURRECEDOR

Gasparo di Bertolotti, um dos primeiros luthiers de que se tem notícias, revirou no túmulo no dia 07 de julho de 2023. Suspeito que até mesmo o Messias – o mais antigo, precioso e preservado violino do mundo retorceu-se em solidariedade ao seu feitor. Era o dia do Orçamento Democrático Estadual na cidade de São José de Piranhas e neste evento os violinos foram silenciados.
Mas, não só os violinos se contorceram, a música como linguagem universal sentiu um leve mal estar. Digo leve por serem os protagonistas do vexame infinitamente menores que ela. Os organizadores do evento se apequenaram no desleixo político e negaram aos ouvidos do povo o timbre brilhante e aveludado do menor, mais agudo e ilustre membro dos cordofones. É preciso que se conte essa história em nome da música, em nome do violino e em defesa das crianças e adolescentes violinistas da cidade de Monte Horebe-PB.
Cidade do interior paraibano, Monte Horebe é naturalmente embelezada pela sua altitude, bom clima e uma população extremamente acolhedora. Na pequena cidade, através do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – um dos Serviços ofertados pelo CRAS (Centro de Referência e Assistência Social) aproximadamente 500 crianças e adolescentes convivem com arte, cultura e música em meio às 10 oficinas ofertadas. Dentre os projetos em execução está a Oficina de Violinistas. Nela, pela ação de friccionar as cerdas de um arco de madeira sobre as cordas, despertam os primeiros ensaios do pizzicato e do col legno no secular instrumento, inventado na Itália a partir da segunda metade século XVI.
Os músicos violinistas foram convidadas para o evento, após reunião da Articulação do ODE com a Secretaria de Cultura do município. Na ocasião elas apresentariam peças musicais já exibidas e prestigiadas em outros municípios do estado, citemos Campina Grande e Cajazeiras. Elas afinaram os instrumentos, seus sonhos e corações para o grande momento. Naquela ocasião política teriam a oportunidade de entregar ao povo a suavidade, o alento, o conforto e a elevação espiritual que só a música reverbera. Mas, ao anfitrião, por desmazelo ou por desfeita, restou a lástima das incúrias.
Naquele fatídico dia, da Serra do Bongá irradiou-se a melodia e do sopé da serra exclamou-se a indiferença e o desrespeito. O som das cordas não encontrou harmonia no desafino da política. Se a cultura espargia do alto, na sonoridade das talentosas crianças horebenses, na planície exalava-se um desagradável odor da grosseria, de quando a um dos convidados é ofertado o desprezo, fazendo ecoar estridente um acorde cínico e destoante do que se espera de um digno anfitrião.
A expectativa de toda comitiva de músicos, pais, familiares e amigos foi frustrada. A oportunidade foi negada e a música foi ofendida gravemente. As autoridades presentes talvez nem tenham tomado conhecimento da gravidade na displicência dos organizadores. E se souberam e nada fizeram isso só eleva o grau da ofensa! Contemos essa história para que não se repita, em outros municípios, nos moldes em que aconteceu no ODE em São José de Piranhas. Quando grandes autoridades estão presentes é fundamental que o respeito seja imperativo. Atitudes desidiosas são vexatórias, principalmente quando se tem que dar bom exemplo.
Me solidarizo com as crianças e adolescentes da Oficina de Violinistas de Monte Horebe, com seus familiares e todos os constrangidos nesse fato histórico. Se a convivência da política partidária com a cultura ainda não se compõe melodiosa cabe-nos, no mínimo, respeitar aos músicos e a música e urgentemente aprimorar a política e os políticos. Uma por ser eterno meio de expressão do inexprimível; a outra por ser necessária e muito necessitada da nossa paciência”.

Francisco Jarismar
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB
CONTATO: fjarismar@gmail.com

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