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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS – 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição e de Iemanjá

Sérgio Botelho – Na condição de feriado oficial ou de ponto facultativo, há oito datas envolvendo apelo religioso respeitadas em João Pessoa: Sexta-Feira da Paixão e Corpus Christi, que são móveis; 5 de agosto, Dia de Nossa Senhora das Neves e de fundação da cidade; 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida; 2 de novembro, Dia de Finados; 8 de dezembro, Dia de Nossa Senhora da Conceição e de Iemanjá; e 25 de dezembro (Natal), estabelecido pelo cristianismo como Dia do Nascimento de Jesus.
Na Paraíba, e em outras partes do país, especialmente no Nordeste, invocando sua condição de mãe protetora, Iemanjá, entidade espiritual das religiões de matriz africana, acabou identificada com Nossa Senhora da Conceição, do catolicismo, louvada em 8 de dezembro. Como Rainha do Mar, Iemanjá é associada, em outras regiões do Brasil, à Nossa Senhora dos Navegantes, festejada em 2 de fevereiro, a exemplo da Bahia.
O recurso da associação desses símbolos de fé, denominado sincretismo religioso, ele aconteceu como uma forma de os africanos trazidos à força para servirem de escravos no Brasil terem alguma chance de praticar suas religiões ancestrais, frente ao poder monárquico, escravocrata e repressivo. Repressão que, infelizmente, continuou após o arruinamento da Monarquia e de a Constituição Republicana de 1891 haver declarado que o Estado Brasileiro era laico. Mesmo estabelecida a liberdade de culto, a repressão às religiões de matriz africana prosseguiu em larga escala, no país.
Na Paraíba, eram comuns batidas policiais nos terreiros, os locais onde a fé é praticada, o que de certa forma mudou com a Lei nº 3.443, de 6 de novembro de 1966 (preste atenção na data), assinada pelo então governador João Agripino.
Na oportunidade foi criada a Federação dos Cultos Africanos da Paraíba, presidida pelo líder religioso Carlos Leal. Daí, a relativa liberdade dos povos de santo em festejarem Iemanjá em 8 de dezembro, dia de muita festa no mar.
Mas, nem tudo são flores no campo do respeito às religiões afro-brasileiras, aqui e alhures, ainda hoje.

Sérgio Botelho  – Jornalista e escritor

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